Juíza cita 'inversão de valores' e referência para jovens para tornar Oruam réu por tentativa de homicídio
30/07/2025
(Foto: Reprodução) Momento em que Oruam é transferido da Cidade da Polícia para um presídio no Rio
Reprodução/TV Globo
A juíza Tula Correa de Mello, da 3ª Vara Criminal, citou uma suposta "inversão de valores" nas atitudes do rapper Mauro Davi Nepomuceno, o Oruam, para aceitar a denúncia contra ele por tentativa de homicídio contra dois policiais civis.
A magistrada lembrou que a ação policial na casa de Oruam, que terminou com a prisão dele dias depois, teve a reação do rapper e seus amigos contra os policiais, atirando pedras contra o delegado Moyses Santana e o oficial de cartório Alexandre Ferraz.
O último acabou ferido pelas pedras arremessadas contra o carro de polícia.
Pedra de 4,8 kg supostamente lançada contra policiais é encontrada perto da casa de Oruam
Reprodução
Tula, que é viúva do policial João Pedro Marquini, assassinado por bandidos, citou ainda que uma das pedras lançadas, com 4,85 kg, poderia ter matado um dos policiais.
"Foram lançadas várias pedras com massas entre 130g e 4,85 kg, algumas das quais, se atingissem a cabeça de uma pessoa, produziriam impacto superior a 9000 N, valor muito acima do limiar de fratura craniana (3500-5000 N), podendo ser letal"
Justiça aceita denúncia contra Oruam por tentativa de homicídio
Na ocasião, os policiais procuravam "Menor Piu", um menor de idade suspeito de atuar como segurança de Doca, um dos chefes do Comando Vermelho, e atuar como ladrão de carros.
"Percebe-se que as ações dos acusados, em especial acusado "Oruam", repercutem de modo tão negativo na sociedade que incitam a população à inversão de valores estabelecida contra as operações feitas por agentes de segurança pública, conforme se depreende pelo início da ação legítima de apreensão do adolescente "Menor Piu" e também pelas demais repercussões, causando profundo abalo social."
Na decisão, ela também afirmou que o fato de Oruam servir como uma referência para jovens, devido à sua atuação como artista, foi um dos motivos para determinar a prisão:
Segundo ela, outros jovens "podem acreditar que a postura audaciosa de atirar pedras e objetos em policiais é a mais adequada e correta, sem quaisquer consequências", e que a paz pública precisa de medidas firmes e extremas, como a prisão, "a fim de que seja preservada".
Em nota, a assessoria de Oruam afirmou que a nova acusação de tentativa de homicídio é infundada e baseada em provas frágeis, configurando perseguição pessoal e exposição midiática.
A assessoria de Oruam destacou ainda que não há evidências técnicas que comprovem o crime e que a integridade dos policiais não foi ameaçada.
Oruam responde por sete crimes
Oruam já vinha respondendo a outros 7 crimes — pelos quais está preso preventivamente — após a confusão do dia 21, quando ele e amigos impediram o cumprimento de um mandado de busca e apreensão contra um menor procurado por tráfico e roubo. Mas é a 1ª vez que o artista se torna réu pelo episódio — e Tula ainda expediu um novo mandado de prisão preventiva por isso.
Um novo vídeo daquela noite mostra Oruam esmurrando um carro de polícia, antes de os agentes deixarem o local.
Segundo a denúncia, após a apreensão do adolescente, os dois denunciados e outros indivíduos não identificados passaram a lançar pedras contra os policiais de uma altura de 4,5 metros, da varanda da casa de Oruam. Um dos agentes foi atingido nas costas, e outro precisou se abrigar atrás da viatura.
📱Baixe o app do g1 para ver notícias do RJ em tempo real e de graça
Oruam é flagrado atacando carro da polícia durante cumprimento de mandado contra menor
O MPRJ sustenta que os réus agiram com dolo eventual, assumindo o risco de matar os agentes, e destaca que as pedras lançadas pesavam até 4,85 kg, com capacidade de causar ferimentos letais.
Além dos ataques físicos, o cantor fez publicações nas redes sociais incitando a violência contra a polícia e desafiando abertamente a presença de agentes no Complexo da Penha. A Promotoria afirma que os atos configuram motivo torpe, meio cruel e tentativa de homicídio contra agentes em serviço, o que pode enquadrá-los na Lei dos Crimes Hediondos.
Depois da operação e de horas foragido, Oruam se entregou no dia 22. Ele responde por 7 crimes, além da tentativa de homicídio:
tráfico de drogas
associação ao tráfico
resistência qualificada
desacato
dano qualificado
ameaça
lesão corporal
Defesa nega tentativa de homicídio
Oruam se entrega à polícia
Kleyton Cintra/TV Globo
Quando a polícia abriu a investigação por tentativa de homicídio, a defesa de Oruam disse ao g1 que "Mauro não atentou contra a vida de ninguém, e isto será devidamente esclarecido nos autos do processo que trata dos fatos."
Segundo a defesa, causa perplexidade saber " que houve a abertura de um inquérito sobre fatos apurados em outro flagrante cujo indiciamento fora de lesão corporal e que teve, como resultado pericial, a conclusão de que a lesão supostamente sofrida pelo policial não causou risco de vida."
Posteriormente, a assessoria de imprensa do artista afirmou que "em momento de extremo desespero e legítima defesa", Oruam "jogou pedras nos mais de 20 carros descaracterizados que estavam em sua porta APÓS ser ameaçado de morte com armas de fogo, socos, chutes, empurrões, ter sua casa revirada e ser altamente agredido quando não oferecia nenhum tipo de resistência, sem qualquer justificativa legal".
A defesa também ressaltou que ele se entregou às autoridades, e que a ação policial contra Oruam tem sido marcada por violações de direitos:
"Desde o início, a ação policial tem sido marcada por violação dos procedimentos estabelecidos por lei, como a ausência de mandado judicial válido, uso de veículos descaracterizados e operações realizadas fora do horário permitido, fatores que configuram, em tese, abuso de autoridade (artigos 22 e seguintes da Lei nº 13.869/2019). Tal comportamento constitui uma afronta ao Estado Democrático de Direito, criando uma narrativa distorcida e ilegal, com o objetivo de criminalizar um artista que, na verdade, é um legítimo cidadão."