Polícia investiga denúncias de assédio contra ex-sócio de academia no Rio
31/07/2025
(Foto: Reprodução) Academia DNA Experience, na Barra da Tijuca
g1 Rio
A Polícia do Rio investiga denúncias de assédio moral e sexual contra o empresário Nicolay Andrade Faria Ribeiro.
Conhecido como Nico Anfarri, ele já foi sócio da academia DNA Experience, nas unidades do Grajaú e Barra da Tijuca, mas deixou a sociedade após uma apuração interna que apontou as denúncias.
Funcionárias e ex-alunas que fizeram as reclamações no setor de denúncias interno criado na academia afirmam que houve omissão da personal trainer e ex-sócia Carolina Vaz. Procurada pelo g1, ela nega as acusações.
Um dos trechos do canal de denúncias pergunta se algum diretor ou sócio da academia estaria sendo acusado de ignorar um problema ou alterar evidências. Uma das denunciantes acusa Carol Vaz de ter ignorado denúncias de assédio moral e sexual.
Entre os relatos, estão beijos na boca sem consentimento, mensagens de WhatsApp com convites e comentários sugestivos, pedidos para funcionárias desfilarem de biquíni e roupas provocantes, além de chantagens contra funcionárias em troca de fotos e vídeos íntimos.
Em nota, a academia DNA diz que Nicolay foi retirado da sociedade após cometer os atos de assédio e que Carol Vaz sabia de tudo que ocorria (leia a nota na íntegra ao final da reportagem).
Procurada, o delegado da 16ª DP (Barra da Tijuca), Neilson Nogueira, afirmou que alguns registros foram feitos, e que vai ouvir todos os envolvidos para entender o que de fato ocorreu.
Carolina Vaz afirmou que nunca soube de nenhuma denúncia de assédio na academia. "Se soubesse, teria denunciado imediatamente"(leia a íntegra abaixo).
Procurado, Nicolay não respondeu aos questionamentos do g1. Na 16ª DP, Nicolay Anfarri afirmou ser alvo de denunciação caluniosa e difamação, e que nunca cometeu nenhum dos atos citados na denúncia feita na delegacia.
Canal de denúncias
Panfleto de canal de denúncias da academia DNA, na Barra da Tijuca
g1 Rio
O atual sócio da academia, José Antônio da Rosa, contou ao g1 que ouviu os primeiros boatos ainda em 2023, pouco depois da inauguração da nova unidade da DNA. A academia ganhou uma unidade na Barra da Tijuca, após anos com sucesso no Grajaú.
Com a ida para a Zona Oeste, no entanto, os boatos de envolvimento de Nicolay em casos de assédio sexual e moral começaram a aumentar, segundo José Antônio.
"Foi uma surpresa pra mim. O procurei (Nicolay) e ele negou tudo. Posteriormente, eu implantei o Contato Seguro dentro da academia, e as denúncias começaram a chegar. Foi depois disso que decidi tirá-lo da sociedade", relatou.
Uma certidão do 3º Ofício de Registro de Títulos de Documentos (RTD) atesta que Nicolay assinou uma notificação extrajudicial que o afastava da posição de sócio da empresa após denúncias "que se enquadrariam nos crimes de assédio sexual, assédio moral, importunação sexual, constrangimento" e outros atos análogos.
"Nos encontramos em um café, falei na reunião: 'hoje vamos falar de um assunto que a gente nunca fala: assédio sexual'. E o oficial de Justiça chegou com o documento para que ele assinasse", contou José Antônio.
Uma dos registros feitos na 16ª DP (Barra da Tijuca) é de uma ex-funcionária de Nico. Ela alega que ele tinha o costume de realizar ensaios com funcionárias e alunas com trajes fitness, vestidos curtos e transparentes e biquinis, sempre em poses sensuais, e que ele escolhia quais fotos poderiam ser publicadas ou guardadas com ele.
Ela alega ainda que, em um dia durante a convivência deles, entre 2021 e 2023, Nicolay teria se aproveitado de um momento de fragilidade para beijar seus lábios, e que isso a teria deixado extremamente incomodada.
Carol Vaz, depois da saída de Nicolay, foi escolhida como nova sócia da DNA. No entanto, após um período de pouco mais de um ano, foi retirada do cargo por uma suposta quebra de confiança dentro da sociedade.
Posteriormente, ela ficou durante 2 meses como personal trainer na academia até ser demitida no dia 9 de julho. Ela afirma que foi desrespeitada na saída da empresa.
Casos relativos à academia são investigados pela 16ª DP (Barra da Tijuca)
Reprodução/ TV Globo
Leia notas dos envolvidos
Nota da Academia DNA:
"CARTA ABERTA À VERDADE:SOBRE A DNA, NICO E CAROL VAZ
"Durante anos, muitas vozes foram silenciadas dentro da Academia DNA. Vozes de mulheres, profissionais, funcionárias - vítimas de assédio moral e, em alguns casos, sexual. Hoje, essas vozes exigem ser ouvidas.
É preciso dizer uma verdade incômoda: Carol Vaz sabia. Sabia o que acontecia dentro da instituição em que trabalhou por duas décadas.
Sabia dos relatos envolvendo Nico, o responsável pela academia. Sabia dos sussurros nos corredores e das histórias contadas entre lágrimas nos bastidores.
Ainda assim, escolheu se calar. Mais do que isso: escolheu permanecer ao lado dele.
Escolheu a lealdade ao poder, ao prestígio e à conveniência, mesmo quando isso significava virar as costas para quem precisava de apoio. Não se trata apenas de omissão. Trata-se de uma decisão consciente de proteger quem praticava abusos.
Essa carta não é movida por ódio. É movida por respeito às vítimas. Por verdade. Por justiça.
Chega de celebrarmos quem silencia. Chega de aplaudir quem se omite diante da dor alheia. A reputação não pode valer mais do que a integridade.
Se há quem deseje defender Carol Vaz, que o faça com consciência. Mas que também encare os fatos: ela sabia- e escolheu não agir."
Nota de Carol Vaz:
"Minha posição é de que absolutamente nunca em mais de 20 anos tive que encobrir nenhum tipo de comportamento criminoso porque absolutamente nunca fiquei sabendo. Desafio uma aluna ou profissional que seja a trazer um print ou áudio ou prova de ter me avisado ou comunicado de alguma coisa. Nunca, nenhuma delas, zero, alunas ou equipe, chegou até mim e disse absolutamente nada. Portanto, se houve conivência ou omissão, não foi da minha parte.
E se em algum momento soubesse desse tipo de coisa, eu teria me afastado e denunciado imediatamente. Não esperaria 10 anos. Nunca faria parte de nenhum formato que depreciasse, desmerecesse ou oprimisse mulheres. Minha vida toda é voltada justamente para o oposto. Estamos juntas, sempre estivemos e sempre será assim. Os homens que se virem rs
Não vim a público e nem irei falar sobre isso, porque é o que querem. Uma tentativa de destruição de caráter atravéz de versões na mídia, ao invés de fazerem como quem busca justiça faz: procurar a justiça. E é isso que eu estou fazendo.
Não há nenhuma denuncia formal na polícia ou nada contra mim, isso é absolutamente falso. Mas há minha contra muita gente. E sobre denúncia em compliance da DNA? Bem.. eu fui sócia dele por um ano e meio, e ele NUNCA me permitiu fazer parte do canal de compliance. Não é estranho? Não deveriam todos os sócios terem acesso? Pois é. Ele nunca me colocou. Se tiveram denúncias contra ele próprio, só ele mesmo sabia. Ele pode alegar o que quiser.
Da minha parte nenhuma acusação será evitada. Pelo contrário, todos responderão criminalmente e civil pelo que estão alegando. E na lei, a verdade e justiça será feita. Na justiça terão que provar o que estão alegando, ou a justiça irá se encarregar das providências que essas alegações tem sobre minha carreira e vida profissional.
Se a intenção de todos é justiça, é justiça que todos terão. Quase me formei em direito e larguei no último período para trabalhar com Educação Física para poder mudar vidas. E é o que faço a mais de duas décadas. Confio que justiça será feita.
É o que nós todos queremos, não é? Que seja feita justiça.
Sobre a minha saída. Falei que me senti humilhada e destratada como mulher e sim, fui! Trabalhei 20 anos nessa empresa, treinei toda equipe, algumas conheço desde meninas, algumas ajudei a sair depressão e obesidade, vencemos tantas coisas juntas e vivemos tantas coisas juntas.
O sócio atual José Antônio Rosa decidiu me demitir num dia de noite por whatsapp e não me permitir entrar no outro. Mesmo que ele não me quisesse na empresa, porque não ter uma aula de despedida? Porque não ter um último momento e terminar tudo com respeito e carinho? Até porque a DNA postou nota oficial se desfazendo em elogios a mim, numa jogadinha furada de mídia, já que na prática não houve respeito e ele estava ao mesmo tempo me mandado notificações extrajudiciais. Não questionei ele me tirar. Ele pode mandar embora quem quiser. Questionei o desrespeito com a minha história e marca e cultura de empresa que eu criei por 20 anos, época em que ele esteve na Bodytech ( de onde foi tirado ) e Smartfit. Fora me demitir assim, ainda mandou trocar as chaves e até colocou segurança na porta pra caso eu aparecesse! Como assim? Isso obviamente foi feito pra me desestabilizar e constranger. Isso sim é assédio moral gravíssimo. E ele alega que eu ia invadir a academia pra pegar aparelhos?
Me permito usar a expressão da juventude "KKK". Tenho todas as conversas. Chega a ser patético ele alegar que mandou a Carol Vaz embora porque ela ia invadir a academia. Acredita quem quiser. O que ele não esperava era o apoio massivo das alunas que eu recebi. E o carinho e indignação de milhões ao redor do mundo e milhares pelo Brasil e alunas. Aí, um dia depois, começou a ser mudado o roteiro. Um jogo de narrativas.
Muito fácil entender tudo que tá acontecendo, e como eu falei, justiça será feita. Na justiça."